Entre os moradores do Vale do Paraíba até hoje há suspeitas sobre a atuação do líder escoteiro. Explicação: nunca uma pessoa havia desaparecido no Pico dos Marins e, 26 anos depois, ninguém mais desapareceu.
As dúvidas sobre a atuação do líder escoteiro foram levantadas em depoimentos constantes nos autos do inquérito policial, sendo as principais:
1 - Em reunião na diretoria do Grupo Escoteiro Olivetano foi decidido que a subida ao Pico dos Marins somente seria feita com guia especializado. Foi indicado para a função o sr. Afonso, mais de 30 anos guia na região. O líder Juan dispensou o guia, alegando ter ouvido que ele não teria tempo. A alegação foi desmentida pelo sr. Afonso e pela esposa dele, em depoimento à Polícia, quando informaram que até lanche ele já tinha preparado para esse trabalho (IP - fls. 7 e 11);
2 - Outro grupo escoteiro que escalaria o Pico dos Marins passou pelo acampamento e convidou o Grupo Olivetano para subir junto. O líder não aceitou (IP - fls. 26 e 27);
3 - Quando o escoteiro se machucou, por volta de 14,00 horas, o líder autorizou Marco Aurélio a buscar socorro. Caminhou com ele cerca de 100 metros, até duas pedras, indicou o caminho e voltou sozinho até onde estavam os demais garotos. Regra básica em locais desconhecidos é nunca separar elementos do grupo. Por que o líder, de grande experiência no escotismo, ignorou isso?
4 - O líder e os três garotos decidiram regressar à base. Caminharam até as duas pedras e, sob a alegação de que o garoto machucado não conseguiria passar por elas (as pedras), desceram pela direita, caminho totalmente diferente do seguido por Marco Aurélio. Se conseguisse socorro, como Marco Aurélio reencontraria o grupo, se este havia seguido um caminho diferente?
5 - Por volta de 2h00 da manhã, o grupo chegou à Fazenda do "Seu" Filinho. O óbvio seria perguntar se um escoteiro teria passado por ali. O líder não fez isso (IP - fls. 21).
6 - Quando o grupo chegou à base do acampamento, por volta de 5,00 ou 6,00 (da manhã seguinte), Marco Aurélio ali não estava. O lógico seria o líder ter ido à casa do sr. Afonso, a 50 metros de distância, e perguntar se Marco Aurélio estaria lá ou havia passado por lá. O líder não o fez (IP fls.23).
7 - O líder deixou os escoteiros na base e regressou sozinho à montanha para (segundo ele) tentar reencontrar Marco Aurélio. Regressou cinco horas depois, sem sucesso (IP - fls. 23).
8 - Face às suspeitas, o líder concordou em passar pelo Polígrafo (IP - fls. 73). Na data determinada, o delegado Francisco Baltazar Martin afirmou que ele havia sofrido pressão psicológica e o resultado poderia dar alterado (IP - fls. 74/75). Segundo comentários na Polícia, a decisão deveu-se a ingerência da União dos Escoteiros do Brasil, para preservar a imagem da instituição.
9 - Como antecedentes, o líder foi expulso de outro grupo escoteiro (IP - fls. 100). Outros depoimentos explicitam sua má conduta:
a) Dr. Anivaldo Registro, Delegado do G.A.S. - Grupo Anti-Sequestro de SP, afirma que ele cometeu erros "de forma proposital" (IP - fls. 67, 68, 69, 77);
b) Pedro Teixeira da Silva, industrial, ..."este não cumpria o regulamento do escotismo, era autoritário, ameaçava os garotos e não admitia ser repreendido" (IP - fls. 93); c) Dr. Pedro Orlando Petrere Júnior, dentista, "... modo estranho de comportamento ... frio, com conduta que às vezes fugia ao normal de uma pessoa sã." (IP - fls. 100;)
10 - O laudo da reconstituição só foi fornecido após longo tempo e o pai do garoto ter recorrido à Corregedoria da Polícia Civil. O laudo foi tendencioso, apontando apenas indícios de fuga do garoto. O inquérito policial tem 391 fls. e foi arquivado em 26 de abril de 1990, por determinação do Juiz de Direito Walter Luiz Esteves de Azevedo, acolhendo manifestação do Doutor Promotor Mauro de Oliveira Navarro.
Para o pai, Ivo Simon, tudo foi uma grande surpresa e constitui-se em um grande mistério: "Tínhamos uma amizade muito grande com o Juan, seus pais, irmã, cunhado e sobrinhos. Chegamos a passar Natal juntos. Após o fato, ele prestou os depoimentos à Polícia e desapareceu. À época, não tinha profissão definida e hoje sabemos que está em Manaus. Os depoimentos no inquérito nos levam a muitas suposições. Os erros do líder foram propositais? Falou-se em discos voadores e, por sugestão de um delegado de São Paulo, fomos a Brasília falar com o general Moacyr Uchoa, expert no assunto. Falou-se da seita Borboleta Azul e, no depoimento à Policia, seu responsável deu um endereço em Goiás, para onde teriam viajado na época alguns jovens. Pedi a jornalistas amigos para investigarem e o endereço era uma casa abandonada. Para nós tudo é mistério até hoje, porque não temos sequer um fio de cabelo que possa garantir um caminho seguido por Marco Aurélio. Se o líder cometeu um homicídio, como até hoje as pessoas acreditam, como mais de 300 homens, que fizeram a busca por 28 dias, não conseguiram localizar o corpo? Se Marco Aurélio quisesse fugir, como suspeita o perito, poderia fazê-lo em São Paulo, com roupas, dinheiro e documentos. Na barraca na serra, ficou tudo isso".
Por todas essas dúvidas, Ivo e a esposa Neuma preferem acreditar em Marco Aurélio vivo. "Talvez desmemoriado. Peço ao povo brasileiro que nos ajude a encontrar um rapaz com as características de Marco Aurélio, que pode estar em qualquer lugar do país, cidade, fazenda, ou até em trabalho escravo. A referência de sua imagem hoje é a foto do irmão gêmeo Marco Antônio. Se um dia eu tiver uma confirmação de que houve um homicídio vai ser mais chocante ainda. Mas a verdade, somente uma pessoa conhece: o líder", afirma o pai Ivo Simon.