quarta-feira, 10 de junho de 2015

HÁ 30 ANOS PROCURO O ESCOTEIRO MARCO AURÉLIO, MEU FILHO.
ME AJUDE, POR FAVOR.

8 de junho de 1985. Uma data para não esquecer. Início de uma história de 30 anos que mudou a minha vida e a da minha família.

Numa jornada do Grupo Escoteiro Olivetano, quatro jovens escoteiros de 15 anos e um líder adulto, 36 anos, tentavam alcançar o Pico dos Marins, próximo à cidade de Piquete,  no Vale do Paraíba, quando a 1.700 metros de altitude, um garoto torceu o pé.  Marco Aurélio, meu filho, foi autorizado a buscar socorro, enquanto os demais tentariam segui-lo lentamente.  Mas Marco Aurélio não venceu a montanha de pedras. Desapareceu, como por encanto e até hoje não existe um só indício, um fio de cabelo, que indique o que aconteceu.

Mais de 300 homens realizaram as buscas por cerca de 30 dias, incluída entre as maiores já realizadas no Brasil, com policiais civis, militares, mateiros, espeleólogos, alpinistas, dois helicópteros, três equipes do COE - Comando de Operações Especiais, teólogos.

É o terceiro maior mistério do mundo.

Como jornalista, tive o amparo maciço dos companheiros de imprensa de todo o país, das autoridades e principalmente da população de Piquete e da região. Mas Marco Aurélio nunca mais foi visto, apesar do uniforme escoteiro e tanta gente procurando, não se conseguiu um único indício de um local por onde teria passado.

Hoje recorro a você, caro leitor. Veja as fotos envelhecidas que aqui anexo. Veja se você conhece ou viu alguma pessoa parecida. E entre em contato comigo, com as assistentes sociais ou autoridades de sua cidade, mas me avise, por favor.

Marco Aurélio pode estar em qualquer lugar deste país ou do exterior, porque ele está vivo, tenho certeza.

Apesar de muita gente acreditar que o líder escoteiro Juan Bernabeu Céspedes assassinou Marco Aurélio e sumiu com o corpo, eu não penso assim.  Afinal, ao que se sabe, ele nunca antes havia cometido um crime e nem o cometeu depois. Seu erro foi autorizar Marco Aurélio a ir buscar socorro no meio de uma montanha que não conhecia e onde não havia ninguém para ajudar, decisão que ninguém entende e levantou suspeitas que perduram até hoje. O que se sabe, e que só vim a tomar conhecimento pelas peças do inquérito, onde é taxado de frio e calculista, é que ele tem transtornos mentais, como comprovou em entrevistas posteriores, afirmando que não errou e que se tivesse que tomar uma nova decisão ela seria exatamente a mesma.

Mas isso pouco importa. O que busco é localizar Marco Aurélio. Durante esses 30 anos tivemos informações de pessoas parecidas com Marco Aurélio em São José dos Campos, Campos do Jordão, Lavrinhas, Botucatu, Pindorama, Sorocaba (SP), Fortaleza (CE), Imperatriz (MA) , Botuporã (BA), Ouro Fino, Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro, Resende (RJ) e tantas que perdi a conta... Duas vezes fomos identificar pessoas que usavam o nome de Marco Aurélio e se faziam passar por ele, porque haviam gostado da histórica aventura. Ainda agora estamos avaliando informações que recebemos de Cachoeira de Minas e Conceição dos Ouros, em Minas Gerais.

A imprensa sempre noticiou as nossas buscas. Tive dois infartos, fiz duas cirurgias do coração (uma mamária e duas safenas) e minha esposa tem cinco doenças autoimunes.  Tudo de fundo emocional.

Mas temos saudade, muita saudade do escotismo. Dos acampamentos que grupos faziam em nosso sítio em Mairiporã. Da primeira vez meu filho Fábio veio me dizer que queria ser escoteiro e já tinha ido falar com o chefe, no Grupo Escoteiro Olivetano.

Movida pelo belo trabalho do escotismo e do bandeirantismo, toda nossa família ingressou nesses movimentos. Anos depois, Fábio tornou-se Lis de Ouro e, como tal, entregou a bandeira do Brasil, em nome da UEB, ao Rei Gustavo da Suécia, e minha filha Patrícia um quadro à sua esposa, a rainha Silvia, quando o casal foi homenageado em São Paulo.

Pena que a irresponsabilidade do chefe acabou com o nosso grupo. Ficaram ainda as amizades, mas as atividades cessaram, as famílias ficaram com medo de prosseguir. Mas foi um erro de conduta, inadmissível, de um chefe, o que em nada denigre a beleza de formação dos jovens junto às comunidades e à natureza. Mas fica um alerta aos pais, para que analisem bem quem são os responsáveis e como se comportam os líderes, não só no escotismo, mas em todos os grupos comunitários que seus filhos militem. Para que amanhã não se sintam como eu, culpado.

De resto, a falta de provas sobre o que aconteceu, e a palavra de Chico Xavier, quando estivemos em sua casa, em Uberaba, MG, que a uma pergunta minha sobre se Marco Aurélio estava vivo, limitou-se a responder:  “só me comunico com entes desencarnados. E com ele não consegui me comunicar”. Por isso continuo a procura. O livro que Chico me deu, “Presença de Luz”, tem uma dedicatória singela: “Aos prezados amigos sr. Ivo Bosaja Simon e Da. Tereza Neuma Bezerra Simon, com respeitoso apreço do servidor reconhecido, Chico Xavier. Uberaba, 5  – 4 –1986”.

Marco Aurélio tem um irmão gêmeo, Marco Antônio. São idênticos e univitelinos. E Marco Antônio nunca se furtou em aparecer na mídia para que alguém que o veja lembre se conhece uma pessoa parecida.

Oxalá, você, caro leitor, possa ser o meu contato para localizar Marco Aurélio.

No google, há inúmeras matérias, filmes e relatos sobre “Marco Aurélio, o escoteiro desaparecido”. No blog, agrupamos a história e informações.
Muito obrigado por ler este relato e vivenciar conosco esta novela de 30 anos.

Ivo Simon
Jornalista – MTb 10.743




30 ANOS SEM MARCO AURÉLIO

Hoje, 8 de junho de 2015, é uma data particularmente triste para minha família. Há 30 anos, desaparecia o meu irmão gêmeo Marco Aurélio, então com 15 anos de idade, durante os quais partilhamos muitas dificuldades, mas sobretudo, muitas vitórias e alegrias.


Já escrevi no passado sobre como, na minha visão, é um sentimento especial ter um irmão gêmeo, alguém que na verdade, é parte de você e da sua existência.


Mas jamais imaginei passar tanto tempo da vida sem ele. E curiosamente, fazendo parte do movimento escoteiro, durante uma atividade que nós tanto gostávamos - acampar e fazer jornadas. 


Passado tanto tempo, não tenho mágoas do escotismo em si. Para nós, que sempre sofremos de alguma forma, rejeição por parte de outras crianças em função dos nossos problemas físicos e limitações por termos nascido prematuros de 6 meses e meio, tivemos a felicidade de sempre encontrar apoio na família, nas madres tão queridas, nos amigos da escola São José da Vila Matilde e também no escotismo. 


Mesmo com as nossas limitações, o escotismo nos acolheu e ajudou muito no nosso desenvolvimento não só físico, mas também em estimular as habilidades de liderança e realização de atividades em grupo. A verdade é que nós adorávamos o escotismo, por isso a tristeza de que esse movimento para nós tão especial, ter sido também o caminho para um fato até agora trágico e sem resposta.


O desaparecimento do Marco Aurélio é algo que para mim, segue como uma situação injustificada sob qualquer análise. Admiro as pessoas que encontram explicações e conforto em outras atividades para aliviar suas dores, mas até encontrar ou saber o que aconteceu ao Marco Aurélio, serei um eterno inconformado. Acredito em Deus e em fazer o bem, mas não posso acreditar que Ele tenha nos colocado nessa vida para passar por algo tão triste e sem explicação. 


Mas a vida segue e o fato é que todos os dias há sempre algo pelo que lutar, a família, uma esposa e filhos maravilhosos para nos dar incentivo de prosseguir adiante. E tantos amigos que sempre nos deram força para conseguir suportar essa ausência de tão longa data.  Graças ao esforço dos meus pais, dos amigos jornalistas ou não, o caso do Marco Aurélio não segue nas estatísticas e no esquecimento, como mais um desaparecido entre tantos por esse mundo a fora. 

Mas para cada família que vive essa situação, o filho desaparecido é único, e o sentimento de perda também.


Nesses 30 anos sem o Marco Aurélio, ainda não tive coragem de contar aos meus filhos sobre o tio que eles não conhecem. Mas jamais esqueci de você, meu irmão, nem um dia sequer. 


Que possamos um dia nos encontrar e deixo aqui a foto exatamente como lembro dele, sempre risonho e prestativo. 


Aos meus pais, irmãos, minha esposa Gilmara Raquel Felipe Simon, família e amigos, muito obrigado por estarem conosco nessa busca.

Marco Antonio Simon