HÁ 30 ANOS PROCURO O ESCOTEIRO MARCO AURÉLIO, MEU FILHO.
ME AJUDE, POR FAVOR.
8 de junho de 1985. Uma data para não esquecer. Início de uma
história de 30 anos que mudou a minha vida e a da minha família.
Numa jornada do Grupo Escoteiro Olivetano, quatro jovens
escoteiros de 15 anos e um líder adulto, 36 anos, tentavam alcançar o Pico dos
Marins, próximo à cidade de Piquete, no
Vale do Paraíba, quando a 1.700 metros de altitude, um garoto torceu o pé. Marco Aurélio, meu filho, foi autorizado a
buscar socorro, enquanto os demais tentariam segui-lo lentamente. Mas Marco Aurélio não venceu a montanha de
pedras. Desapareceu, como por encanto e até hoje não existe um só indício, um
fio de cabelo, que indique o que aconteceu.
Mais de 300 homens realizaram as buscas por cerca de 30 dias,
incluída entre as maiores já realizadas no Brasil, com policiais civis,
militares, mateiros, espeleólogos, alpinistas, dois helicópteros, três equipes
do COE - Comando de Operações Especiais, teólogos.
É o terceiro maior mistério do mundo.
Como jornalista, tive o amparo maciço dos companheiros de
imprensa de todo o país, das autoridades e principalmente da população de
Piquete e da região. Mas Marco Aurélio nunca mais foi visto, apesar do uniforme
escoteiro e tanta gente procurando, não se conseguiu um único indício de um
local por onde teria passado.
Hoje recorro a você, caro leitor. Veja as fotos envelhecidas
que aqui anexo. Veja se você conhece ou viu alguma pessoa parecida. E entre em
contato comigo, com as assistentes sociais ou autoridades de sua cidade, mas me
avise, por favor.
Marco Aurélio pode estar em qualquer lugar deste país ou do
exterior, porque ele está vivo, tenho certeza.
Apesar de muita gente acreditar que o líder escoteiro Juan
Bernabeu Céspedes assassinou Marco Aurélio e sumiu com o corpo, eu não penso
assim. Afinal, ao que se sabe, ele nunca
antes havia cometido um crime e nem o cometeu depois. Seu erro foi autorizar
Marco Aurélio a ir buscar socorro no meio de uma montanha que não conhecia e
onde não havia ninguém para ajudar, decisão que ninguém entende e levantou
suspeitas que perduram até hoje. O que
se sabe, e que só vim a tomar conhecimento pelas peças do inquérito, onde é
taxado de frio e calculista, é que ele tem transtornos mentais, como comprovou em
entrevistas posteriores, afirmando que não errou e que se tivesse que tomar uma
nova decisão ela seria exatamente a mesma.
Mas isso pouco importa. O que busco é localizar Marco
Aurélio. Durante esses 30 anos tivemos informações de pessoas parecidas com Marco
Aurélio em São José dos Campos, Campos do Jordão, Lavrinhas, Botucatu,
Pindorama, Sorocaba (SP), Fortaleza (CE), Imperatriz (MA) , Botuporã (BA), Ouro
Fino, Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro, Resende (RJ) e tantas que perdi a
conta... Duas vezes fomos identificar pessoas que usavam o nome de Marco
Aurélio e se faziam passar por ele, porque haviam gostado da histórica
aventura. Ainda agora estamos avaliando informações que recebemos de Cachoeira
de Minas e Conceição dos Ouros, em Minas Gerais.
A imprensa sempre noticiou as nossas buscas. Tive dois
infartos, fiz duas cirurgias do coração (uma mamária e duas safenas) e minha esposa
tem cinco doenças autoimunes. Tudo de fundo emocional.
Mas temos saudade, muita saudade do escotismo. Dos
acampamentos que grupos faziam em nosso sítio em Mairiporã. Da primeira vez meu
filho Fábio veio me dizer que queria ser escoteiro e já tinha ido falar com o
chefe, no Grupo Escoteiro Olivetano.
Movida pelo belo trabalho do escotismo e do bandeirantismo,
toda nossa família ingressou nesses movimentos. Anos depois, Fábio tornou-se
Lis de Ouro e, como tal, entregou a bandeira do Brasil, em nome da UEB, ao Rei
Gustavo da Suécia, e minha filha Patrícia um quadro à sua esposa, a rainha
Silvia, quando o casal foi homenageado em São Paulo.
Pena que a irresponsabilidade do chefe acabou
com o nosso grupo. Ficaram ainda as amizades, mas as atividades cessaram, as
famílias ficaram com medo de prosseguir. Mas foi um erro de conduta,
inadmissível, de um chefe, o que em nada denigre a beleza de formação dos
jovens junto às comunidades e à natureza. Mas fica um alerta aos pais, para que
analisem bem quem são os responsáveis e como se comportam os líderes, não só no
escotismo, mas em todos os grupos comunitários que seus filhos militem. Para
que amanhã não se sintam como eu, culpado.
De resto, a falta de provas sobre o que aconteceu, e a
palavra de Chico Xavier, quando estivemos em sua casa, em Uberaba, MG, que a
uma pergunta minha sobre se Marco Aurélio estava vivo, limitou-se a
responder: “só me comunico com entes
desencarnados. E com ele não consegui me comunicar”. Por isso continuo a
procura. O livro que Chico me deu, “Presença de Luz”, tem uma dedicatória
singela: “Aos prezados amigos sr. Ivo Bosaja Simon e Da. Tereza Neuma Bezerra
Simon, com respeitoso apreço do servidor reconhecido, Chico Xavier. Uberaba, 5 – 4 –1986”.
Marco Aurélio tem um irmão gêmeo, Marco Antônio. São
idênticos e univitelinos. E Marco Antônio nunca se furtou em aparecer na mídia
para que alguém que o veja lembre se conhece uma pessoa parecida.
Oxalá, você, caro leitor, possa ser o meu contato para
localizar Marco Aurélio.
No google, há inúmeras matérias, filmes e relatos sobre
“Marco Aurélio, o escoteiro desaparecido”. No blog, agrupamos a história e
informações.
Muito obrigado por ler este relato e vivenciar conosco esta
novela de 30 anos.
Ivo Simon
Jornalista – MTb 10.743